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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Só falta pichar Ouro Preto bate recordes de descuido com o patrimônio histórico

José Edward
Revista Veja - 19/05/2003

Foi-se o tempo em que Ouro Preto era exemplo mundial de conservação do patrimônio histórico. Nos últimos meses, dois acidentes completaram uma lista de danos provocados pelo descaso. Primeiro, um caminhão atropelou uma fonte do século XVIII. Depois, um incêndio devorou um casarão do século XIX. Bem antes disso já havia cupins corroendo a estrutura de obras históricas, goteiras causando infiltração em telhados coloniais, umidade esfarinhando tijolos centenários, trânsito provocando trincas em paredes e gente fazendo instalações que a qualquer momento podem provocar novas fogueiras com bens culturais. Tudo isso está num inventário da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais, no qual se descobre que 40% dos casarões correm risco de desabamento. "Ouro Preto pode ter o mesmo destino do Chiado", alerta Frederico Tofani, coordenador do inventário, lembrando o incêndio que destruiu o bairro histórico de Lisboa, em 1988.
Ao lado da falta de investimentos na recuperação de obras e monumentos está o descaso da administração municipal. Até hoje a cidade não tem uma lei de uso do solo nem um código de edificações. O plano diretor, aprovado em 1996, ainda não foi implantado. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) só conta com dois técnicos para a fiscalização local. Uma das acusações que levaram ao afastamento da prefeita pedetista Marisa Xavier, em abril, foi a de negligência com o patrimônio histórico. Ela retomou o cargo com uma liminar. De um contrato de 7 milhões de reais para várias obras, já se gastaram 5 milhões, mas ainda não se viram os trabalhos previstos de controle de incêndios e aterramento elétrico no centro da cidade, de acordo com as denúncias levadas à Câmara Municipal pelo PT local. "Todas as denúncias são infundadas", responde Marisa. Numa visita a Ouro Preto, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, não soube a quem liberar recursos para a conservação de monumentos. "A cidade corre grande risco de entrar para a lista dos patrimônios em perigo", afirma Jurema Machado, diretora de Cultura da Unesco no Brasil.

Os dez menos
Símbolos da cidade e seus maiores problemas
Museu da Inconfidência
Paredes trincadas devido ao tráfego nas imediações
Palácio dos Governadores
Trincas e acréscimos indevidos no prédio
Matriz Nossa Senhora do Pilar
Telhado e forro precisam de restauração urgente
Matriz Nossa Senhora Conceição de Antônio Dias
Obras de arte deterioradas*
Igreja São Francisco de Assis
Estrutura abalada pelo tráfego de ônibus
Igreja São José
Fechada há seis anos, com danos no assoalho, no altar e no coro
Igreja Santa Efigênia
O madeiramento está sendo comido pelos cupins
Igreja Nossa Senhora das Mercês de Baixo
Cupins devoram o forro
Igreja do Taquaral
Problemas na cobertura, no forro e no piso
Matriz do Distrito de São Bartolomeu
Piso, forro e cobertura comprometidos
Fonte: Iphan, Ouro Preto
* Há verba do Banco Interamericano de
Desenvolvimento para a restauração
Empurre seus limites
Contentar-se com um trabalho médio é concordar em ser médio. Aumente sua autocrítica e evolua.
Por Eugenio C. Mussak*
William Butler Yeats (1865-1939) foi um dos dos três principais poetas da língua inglesa dó século XX (os outros dois foram Oscar Wilde e James Joyce). Lá no meio de sua bem acabada obra romântica, encontramos uma frase solta que dá um novo tom ao pensamento de todos aqueles que procuram aprimorar seu trabalho e sua vida. Disse ele: “... é a mim que corrijo ao retocar minhas obras...”.
É no mínimo um pensamento edificante para aqueles que, como fez Yeats, procuram dar o melhor de si através daquilo que fazem. O resultado do trabalho representa, como a arte, o espírito daquele que o produziu. Quando fazemos um trabalho e nos contentamos com um resultado apenas médio, estamos, ao mesmo tempo, concordando com continuarmos a ser apenas médios. Yeats não se incomodava em refazer o que havia feito anteriormente, como a finalidade de obter um resultado melhor. E, na verdade, ao aprimorar seu trabalho estava aprimorando a ele mesmo.
Na empresas encontramos quatro tipos de pessoas:
1. pouco desempenho e grande vontade de aprender
2. grande desempenho e pequena vontade de aprender
3. grande desempenho e grande vontade de aprender
4. pequeno desempenho e pequena vontade de aprender
Que tipo de pessoa você gostaria de ter em sua equipe de trabalho? O moderno RH tem uma tendência a preferir pessoas com potencial. Vontade de aprender permanentemente, portanto, é fundamental. O baixo desempenho será tolerado, desde que considerado temporário. Pessoas com desempenho comprovado, mas que perderam a vontade de se aprimorar são consideradas um perigo, pois, não só param de evoluir, como passam a contagiar colegas com seu comportamento, em geral carregado de uma segurança pessoal meio arrogante.
O sonho de consumo de todo gestor de RH é a pessoa que tem altos tanto o desempenho quanto a vontade de aprender. Esse tipo de profissional as empresas querem reter. Aliás, a discussão principal nas rodas de recursos humanos foi deslocada do verbo “atrair” para o verbo “reter” talentos. A percepção moderna é que salário pode atrair, mas as condições de crescimento profissional e desenvolvimento pessoal são os responsáveis pela retenção. E é claro que as pessoas do tipo 4, pequenas no desempenho e na vontade de aprender têm seus dias contados.
Aceitar que somos limitados é o mesmo que condenar a nós mesmos a continuarmos limitados. Só aumentamos nosso alcance quando conhecermos nossos limites, sim, mas com a finalidade de empurrá-los para mais longe, aumentando nossos potenciais. Nesse sentido, há dois tipos de pessoas que são irritantes ao extremo: aquelas que se acham limitadas e não acreditam em seu próprio potencial de desenvolvimento, e aquelas que se julgam perfeitas, não aceitando que precisam melhorar sempre.
As que se acham limitadas e se conformam com isso provavelmente tiveram algum defeito de educação, quando aprenderam principalmente aquilo que “não podiam fazer” e não o que “podiam fazer”. Aprenderam pela negação, e chegaram à triste conclusão que na vida há mais coisas fora de seu alcance do que dentro de suas possibilidades de realização. É uma educação castradora, culpa de pais despreparados e de escolas viciadas em métodos medievais, que confundem educação com treinamento para a prática de atos definidos, e não com liberdade de pensamento.
As que pensam que não têm mais o que aprender ou como melhorar pois consideram que já fazem tudo perfeito, são vítimas de um mecanismo de defesa inconsciente, que tem por finalidade camuflar um sentimento de inferioridade ou de medo, e reagem às sugestões de mudança com arrogância e autoconfiança vazia. São pessoas perigosas, pois sua segurança pessoal não é convenientemente embasada, mas provoca reações no meio em que vivem, podendo levar outras pessoas a comportamentos enganosos. Quem acha que sabe tudo é tão nocivo quanto quem acha que não sabe nada.
Yeats tinha razão. Temos que melhorar sempre, e só podemos fazer isso procurando melhorar o que fazemos. Nós não somos medidos pelo resultado de um ato isolado, e sim pelos resultados que obtemos continuadamente. Um toque de gênio em uma rotina diária medíocre não garante mais o emprego de ninguém. Regularidade está na ordem do dia. Inclusive regularidade no crescimento, tanto profissional quanto pessoal. Afinal, “... é a mim que corrijo ao retocar minhas obras...”.
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*Eugenio Mussak (eugeniomussak@uol.com.br) é médico e biólogo. Especialista em educação, dedica-se a escrever e a dar palestras sobre o comportamento humano. Atua como consultor de soluções educacionais para grandes empresas.

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